quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A ORIGEM DO PRESBITERIANISMO

A ORIGEM DO PRESBITERIANISMO – UMA BREVE AVALIAÇÃO HISTÓRICA.
Professor: Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Introdução:
            Ainda dentro da temática da Identidade Confessional e denominacional o presbiterianismo tem uma rica história ainda a ser explorada.  Precisamos levar em consideração a nossa história e identidade para podermos caminhar testemunhando de Cristo Jesus neste mundo.
            As origens históricas, teológicas e denominacionais oferecem o real contorno de nossa identidade. Muitos presbiterianos não oferecem uma resposta clara porque desconhecem sua própria origem confessional. “Muitas vezes quando questionados por outras pessoas quanto as suas convicções e práticas, sentem-se frustrados com a sua incapacidade de expor de modo coerente e convincente as suas posições”.[1]
            Este estudo procura minimizar esta carência de compreensão histórica do que seja o presbiterianismo, pois, para muitos evangélicos a Igreja Presbiteriana é tida como uma seita e por terem tal compreensão evitam-se aproximar-se dos presbiterianos[2].
I – PRESBITERIANOS QUEM SOMOS?
            De acordo com o nosso Manual Presbiteriano (Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil): A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) é uma federação de Igrejas Locais que “tem em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária”.[3]
II – DE ONDE VIEMOS?
            Os presbiterianos tem uma origem bem antiga. A Igreja Presbiteriana pertence à tradição reformada. Ou seja, sua origem está vinculada a chamada Reforma Protestante.
1.2 – O Presbiterianismo Internacional.
            Vamos começar estudando a ideia do Presbiterianismo no mundo afora. Claro que devemos considerar primeiramente nas páginas das Escrituras; pois, aprendemos na Palavra de Deus que o sistema de governo por meio de presbíteros começa desde os tempos do Antigo Testamento.
            Quando Moisés é chamado para libertar ao povo, então, ele já encontra na comunidade de Israel os presbíteros como dirigentes do povo: Êxodo 3.16: “Vai, ajunta os anciãos [PRESBÍTEROS] de Israel e dize-lhes: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que vos tem sido feito no Egito”.
            No Novo Testamento Cristo também ao aparecer no cenário se depara também com a realidade dos presbíteros. Notemos em textos como: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos [πρεσβυτέρων - presbytérôn]? Pois não lavam as mãos, quando comem”. (Mateus 15.2 ARA) outro texto que lemos no evangelho é o seguinte: “pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos [πρεσβυτέρων - presbytérôn], não comem sem lavar cuidadosamente as mãos;” (Mar 7:3 ARA)
            O relato de Atos dos Apóstolos apresenta-nos a existência de igrejas governadas por presbíteros (Atos 14.23; 20.17); e Paulo escreve mostrando que governo da Igreja é marcado pela regência dos presbíteros (1 Timóteo 3.1-11; 5.17; Tito 1.1-5).
a) João Calvino e os primórdios reformados do presbiterianismo:
            Na chamada Reforma Protestante o sistema presbiteriano começa a ser desenvolvido, primeiramente, pelo maior mentor da Reforma João Calvino como algum já disse: “João Calvino foi o reformador que deu atenção à questão da forma de governo mais do que qualquer outro”.[4]
Calvino desenvolveu as Ordenanças Eclesiásticas. Nelas ele sumariza os quatros ofícios – Pastores para serem pregadores da Palavra e a administração dos sacramentos; os Doutores que eram responsáveis pelo ensino de teologia na igreja e nos seminários; os presbíteros que, juntamente com os pastores, exerciam a supervisão ao rebanho na exortação, admoestação, aconselhamento e disciplina, e por fim, os Diáconos que cuidavam dos deveres de misericórdia da igreja.[5]
Notemos que o governo “ficava principalmente nas mãos do Consistório [ uma espécie de conselho], que era formado por cinco pastores e doze leigos que recebiam o nome de ‘anciãos’ [Presbíteros]”[6] em outras palavras Calvino restaurara o governo presbiteriano para a igreja local.
b) John Knox – Pai do Presbiterianismo.
            O segundo personagem que merece destaque entre os presbiterianos é o escocês John Knox. Knox foi discípulo de Calvino quando durante o seu exílio em Genebra. Ele refurgiou-se naquela cidade e motivado por  Calvino assumiu o pastorado de uma igreja de refugiados ingleses.[7] “A Genebra de Calvino foi uma revelação para Knox: ali ele encontrou o governo e a disciplina presbiteriana das igrejas, códigos morais aplicados pela igreja, ordem e paz na sua direção.”[8] Na Igreja de Genebra Knox “introduziu a Ordem de Culto [...] e introduziu subsequentemente, quando voltou para a Escócia, a qual tem sido usado, desde aquele tempo, na Igreja da Escócia como o seu Livro de Ordem oficial”[9]
            No desenvolvimento da eclesiologia de John Knox definiu-se que
em cada igreja, elegiam-se presbíteros, e também o ministro, mesmo que este não pudesse ser empossado antes de ser examinado pelos demais ministros. O livro de disciplina da igreja, o Livro de Ordem comum e a Confissão Escocesa foram os pilares pelos quais Knox construiu sua nova igreja.[10]
            Assim temos uma visão geral do presbiterianismo internacional conforme é conhecido na história estes dois fundamentais representantes e articuladores do sistema presbiteriano devem receber pelo laborioso trabalho que realizaram para desenvolver um sistema eclesiástico tão unificado e bíblico como é o Presbiterianismo.
1.2 – O Presbiterianismo Nacional – Um Esboço Histórico.
A) A França Antártica – um sonho frustrado. [1555-1558]
            Os reformados franceses desejosos por liberdade religiosa procuravam terras onde pudesse ter liberdade de cultuar a Deus a verdadeira fé evangélica, então, a Baía de Guanabara foi um alvo escolhido para a implantação deste sonho; o próprio Calvino enviou ao Brasil cinco pastores calvinistas para o sucesso desta empreitada. A correspondência mantida entre Calvino e os franceses, inclusive com Villegaignon[11] nos mostra o interesse de Calvino pela França reformada que aqui se estabelecera.
            No ano de 1555 os presbiterianos (reformados) haviam chegado na Baía de Guanabara  e procuram logo estabelecer uma colônia reformada; todavia, com o passar dos anos os reformados foram hostilizados, presos e torturados por professar a fé reformada, em um tempo de 12 horas eles deveriam formular o que creiam; eles o assim fizeram foi confeccionada a primeira Confissão de fé das Américas – a Confissão de Guanabara, escrita em Latim focalizando nos pontos fundamentais da fé reformada; após, a redigirem foram matirizados.
            Após dez anos João Bolés , conhecido como Jacques le Balleur. – o quinto calvinista – que havia fugido  foi encontrado pelo Padre Anchieta e executado pelo mesmo[12]. E Mem de Sá e Estácio de Sá conquistaram o forte Coligny, e assim, o calvinismo [presbiterianismo] foi sufocado no Brasil. Villegaignon ficou conhecido na Europa como o Caim das Américas, pois, havia traído os propósitos calvinistas.[13]
B) A Holanda Presbiteriana no Nordeste. [1630-1654]
            A segunda tentativa, igualmente frustrada, de se estabelecer o presbiterianismo em solo brasileiro foi em Pernambuco; a invasão holandesa trouxe o calvinismo da Holanda para o Brasil sob a liderança do Conde Mauricio de Nassau. Neste processo se instalou Igrejas Reformadas [Presbiterianas] por todo o Nordeste, deu-se liberdade de Culto aos Judeus, católicos e índios; bem como se fez a tradução do catecismo de Hidelberg para a língua Tupi, organizou-se igrejas, conselho e consistório chegando até haver um sínodo; mas, muitos não estavam desejosos de ter uma nação protestante, então surgiu revoltas tais como a Batalha dos Guararapes onde os holandeses foram expulsos, e, desta forma mais uma vez a presença calvinista foi ofuscada e apagada do solo brasileiro.
C) O Estabelecimento do Presbiterianismo Brasileiro.
            O historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil declara que a “Implantação da obra presbiteriana no Brasil resultou dos esforços de Igrejas norte-americanas, que ao longo de muitas décadas fizeram um enorme investimento de pessoal e recursos em muitos pontos do território brasileiro”[14]
            Esses esforços resultaram posteriormente no estabelecimento por definitivo da presença presbiteriana neste País. Um historiador sumariza este fato quando escreve:
A Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos, em Maio de 1859, aprovou a nomeação de Ashebel Green Simonton, de 26 anos, ‘para explorar o território verificar os meios de atingir com sucesso a mente dos naturais da terra, e testar até que ponto a legislação favorável à tolerância será mantida’. Se Simonton fizesse um relatório favorável , a missão seria ampliada pela Sociedade. Em 12 de agosto do mesmo ano, Simonton desembarcou no Rio de Janeiro. Seu cunhado Alexander L.Blackford chegou quase um ano depois e Francis J. C. Schneider no final de 1861.[15]
 E o trabalho desenvolveu e cresceu para a Glória de Deus. A igreja presbiteriana do Brasil é uma das grandes igrejas que tem sua Confissão de Fé e Catecismos de Westminster respaldada pelas Escrituras e tida como uma igreja do ramo das famílias reformadas.




[1] MATOS, Alderi de Souza; NASCIMENTO, Adão Carlos. O que Todo Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p.9.
[2] Antes de qualquer coisa devemos esclarecer: A Igreja Presbiteriana confessa a fé unicamente em Cristo Jesus como Senhor e Salvador do seu povo, logo não acreditamos em nenhum outro mediador para salvar os homens, exceto Cristo Jesus, confessamos a Santíssima Triande e cremos na autoridade suprema e absoluta das Escrituras. Observamos os sacramentos (ordenanças) que Cristo legou-nos: Batismo e Santa Ceia. Isso tudo ficará mais claro na medida em que o nosso curso avança.
[3] MATOS, Alderi de Souza; NASCIMENTO, Adão Carlos. O que Todo Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p.9.

[4] LEITH, John. H. A Tradição Reformada – Uma Maneira de ser a Comunidade Cristã. Tradução: Eduardo Galasso Faria e Gerson Correia de Lacerda. São Paulo: Pendão Real, 1996, p253.
[5] Idem.
[6] GOZÁLEZ, Justus L. História Ilustrada do Cristianismo – A Era dos Reformadores até a Era Inconclusa. Volume 2, Tradução: Itamir Neves de Souza. São Paulo: Edições Vida Nova, 2011, p.68.
[7] BOND, Douglas. A Poderosa Fraqueza de John Knox.Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Editora Fiel, 2011, p.33
[8] LUCAS, Sean Michael. O Cristão Presbiteriano – Convicções, práticas e Histórias. Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.159.
[9] LLOYD-JONES, David Martyn. Os Puritanos e Seus Sucerros. Tradutor: Odayr Olivetti, São Paulo: PES,  p.282.
[10]GOZÁLEZ, Justus L. História Ilustrada do Cristianismo – A Era dos Reformadores até a Era Inconclusa. Volume 2, Tradução: Itamir Neves de Souza. São Paulo: Edições Vida Nova, 2011, p.82-83.
[11] Líder dos reformados no Brasil neste período, que logo após veio a trair os pastores calvinistas por fim matá-los.
[12] ROCHA POMBO, José Francisco. História do Brasil. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1963, p.514
[13] MACEDO, Dr. Joaquim Manoel de. Lições de História do Brazil  - Para uso de escolas de Instrução primária, Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922, p.92.
[14] MATOS, Alderi de Souza. Os Pioneiros – Presbiterianos do Brasil (1859-1900). São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.13.
[15] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos – Uma História da Igreja Cristã. Tradução: Israel Belo de Azevedo; Valdemar Kroker. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008, p.415.

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