A ORIGEM DO
PRESBITERIANISMO – UMA BREVE AVALIAÇÃO HISTÓRICA.
Professor:
Rev. João Ricardo Ferreira de
França.
Introdução:
Ainda dentro da temática da
Identidade Confessional e denominacional o presbiterianismo tem uma rica
história ainda a ser explorada.
Precisamos levar em consideração a nossa história e identidade para
podermos caminhar testemunhando de Cristo Jesus neste mundo.
As origens históricas, teológicas e
denominacionais oferecem o real contorno de nossa identidade. Muitos
presbiterianos não oferecem uma resposta clara porque desconhecem sua própria
origem confessional. “Muitas vezes quando questionados por outras pessoas
quanto as suas convicções e práticas, sentem-se frustrados com a sua incapacidade
de expor de modo coerente e convincente as suas posições”.[1]
Este estudo procura minimizar esta
carência de compreensão histórica do que seja o presbiterianismo, pois, para
muitos evangélicos a Igreja Presbiteriana é tida como uma seita e por terem tal
compreensão evitam-se aproximar-se dos presbiterianos[2].
I – PRESBITERIANOS QUEM SOMOS?
De acordo com o nosso Manual
Presbiteriano (Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil): A Igreja
Presbiteriana do Brasil (IPB) é uma federação de Igrejas Locais que “tem em
comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de
culto e de vida comunitária”.[3]
II – DE ONDE VIEMOS?
Os
presbiterianos tem uma origem bem antiga. A Igreja Presbiteriana pertence à
tradição reformada. Ou seja, sua origem está vinculada a chamada Reforma
Protestante.
1.2 –
O Presbiterianismo Internacional.
Vamos
começar estudando a ideia do Presbiterianismo no mundo afora. Claro que devemos
considerar primeiramente nas páginas das Escrituras; pois, aprendemos na Palavra
de Deus que o sistema de governo por meio de presbíteros começa desde os tempos
do Antigo Testamento.
Quando Moisés é chamado para
libertar ao povo, então, ele já encontra na comunidade de Israel os presbíteros
como dirigentes do povo: Êxodo 3.16: “Vai, ajunta os anciãos [PRESBÍTEROS] de
Israel e dize-lhes: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus
de Isaque e o Deus de Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado
e visto o que vos tem sido feito no Egito”.
No Novo Testamento Cristo também ao
aparecer no cenário se depara também com a realidade dos presbíteros. Notemos
em textos como: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos [πρεσβυτέρων - presbytérôn]? Pois não lavam as mãos, quando comem”. (Mateus 15.2 ARA)
outro texto que lemos no evangelho é o seguinte: “pois os fariseus e todos os
judeus, observando a tradição dos anciãos [πρεσβυτέρων - presbytérôn], não comem sem lavar cuidadosamente
as mãos;” (Mar 7:3 ARA)
O relato de Atos dos Apóstolos
apresenta-nos a existência de igrejas governadas por presbíteros (Atos 14.23;
20.17); e Paulo escreve mostrando que governo da Igreja é marcado pela regência
dos presbíteros (1 Timóteo 3.1-11; 5.17; Tito 1.1-5).
a)
João Calvino e os primórdios reformados do presbiterianismo:
Na
chamada Reforma Protestante o sistema presbiteriano começa a ser desenvolvido,
primeiramente, pelo maior mentor da Reforma João Calvino como algum já disse: “João
Calvino foi o reformador que deu atenção à questão da forma de governo mais do
que qualquer outro”.[4]
Calvino desenvolveu as Ordenanças
Eclesiásticas. Nelas ele sumariza os quatros ofícios – Pastores para serem
pregadores da Palavra e a administração dos sacramentos; os Doutores que eram
responsáveis pelo ensino de teologia na igreja e nos seminários; os presbíteros
que, juntamente com os pastores, exerciam a supervisão ao rebanho na exortação,
admoestação, aconselhamento e disciplina, e por fim, os Diáconos que cuidavam
dos deveres de misericórdia da igreja.[5]
Notemos que o governo “ficava principalmente nas mãos do Consistório [
uma espécie de conselho], que era formado por cinco pastores e doze leigos que
recebiam o nome de ‘anciãos’ [Presbíteros]”[6] em outras palavras Calvino
restaurara o governo presbiteriano para a igreja local.
b) John Knox – Pai do Presbiterianismo.
O segundo personagem que merece
destaque entre os presbiterianos é o escocês John Knox. Knox foi discípulo de
Calvino quando durante o seu exílio em Genebra. Ele refurgiou-se naquela cidade
e motivado por Calvino assumiu o
pastorado de uma igreja de refugiados ingleses.[7] “A Genebra de Calvino foi
uma revelação para Knox: ali ele encontrou o governo e a disciplina
presbiteriana das igrejas, códigos morais aplicados pela igreja, ordem e paz na
sua direção.”[8]
Na Igreja de Genebra Knox “introduziu a Ordem de Culto [...] e introduziu
subsequentemente, quando voltou para a Escócia, a qual tem sido usado, desde
aquele tempo, na Igreja da Escócia como o seu Livro de Ordem oficial”[9]
No desenvolvimento da eclesiologia
de John Knox definiu-se que
em cada
igreja, elegiam-se presbíteros, e
também o ministro, mesmo que este não pudesse ser empossado antes de ser
examinado pelos demais ministros. O livro de disciplina da igreja, o Livro de Ordem comum e a Confissão Escocesa foram os pilares
pelos quais Knox construiu sua nova igreja.[10]
Assim temos uma visão geral do
presbiterianismo internacional conforme é conhecido na história estes dois
fundamentais representantes e articuladores do sistema presbiteriano devem
receber pelo laborioso trabalho que realizaram para desenvolver um sistema
eclesiástico tão unificado e bíblico como é o Presbiterianismo.
1.2 – O Presbiterianismo Nacional – Um
Esboço Histórico.
A) A França Antártica – um sonho frustrado.
[1555-1558]
Os
reformados franceses desejosos por liberdade religiosa procuravam terras onde
pudesse ter liberdade de cultuar a Deus a verdadeira fé evangélica, então, a
Baía de Guanabara foi um alvo escolhido para a implantação deste sonho; o
próprio Calvino enviou ao Brasil cinco pastores calvinistas para o sucesso
desta empreitada. A correspondência mantida entre Calvino e os franceses,
inclusive com Villegaignon[11] nos mostra o interesse de
Calvino pela França reformada que aqui se estabelecera.
No ano de 1555 os presbiterianos
(reformados) haviam chegado na Baía de Guanabara e procuram logo estabelecer uma colônia
reformada; todavia, com o passar dos anos os reformados foram hostilizados,
presos e torturados por professar a fé reformada, em um tempo de 12 horas eles
deveriam formular o que creiam; eles o assim fizeram foi confeccionada a
primeira Confissão de fé das Américas – a Confissão de Guanabara, escrita em
Latim focalizando nos pontos fundamentais da fé reformada; após, a redigirem
foram matirizados.
Após dez anos João Bolés ,
conhecido como Jacques le Balleur. – o quinto calvinista – que havia
fugido foi encontrado pelo Padre
Anchieta e executado pelo mesmo[12]. E Mem de
Sá e Estácio de Sá conquistaram o forte Coligny, e assim, o calvinismo
[presbiterianismo] foi sufocado no Brasil. Villegaignon ficou conhecido na
Europa como o Caim das Américas,
pois, havia traído os propósitos calvinistas.[13]
B) A Holanda Presbiteriana no Nordeste.
[1630-1654]
A segunda tentativa, igualmente
frustrada, de se estabelecer o presbiterianismo em solo brasileiro foi em
Pernambuco; a invasão holandesa trouxe o calvinismo da Holanda para o Brasil
sob a liderança do Conde Mauricio de Nassau. Neste processo se instalou Igrejas
Reformadas [Presbiterianas] por todo o Nordeste, deu-se liberdade de Culto aos
Judeus, católicos e índios; bem como se fez a tradução do catecismo de
Hidelberg para a língua Tupi, organizou-se igrejas, conselho e consistório
chegando até haver um sínodo; mas, muitos não estavam desejosos de ter uma
nação protestante, então surgiu revoltas tais como a Batalha dos Guararapes
onde os holandeses foram expulsos, e, desta forma mais uma vez a presença
calvinista foi ofuscada e apagada do solo brasileiro.
C) O Estabelecimento do
Presbiterianismo Brasileiro.
O
historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil declara que a
“Implantação da obra presbiteriana no Brasil resultou dos esforços de Igrejas
norte-americanas, que ao longo de muitas décadas fizeram um enorme investimento
de pessoal e recursos em muitos pontos do território brasileiro”[14]
Esses esforços resultaram
posteriormente no estabelecimento por definitivo da presença presbiteriana
neste País. Um historiador sumariza este fato quando escreve:
A Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos, em Maio de
1859, aprovou a nomeação de Ashebel Green Simonton, de 26 anos, ‘para explorar
o território verificar os meios de atingir com sucesso a mente dos naturais da
terra, e testar até que ponto a legislação favorável à tolerância será
mantida’. Se Simonton fizesse um relatório favorável , a missão seria ampliada
pela Sociedade. Em 12 de agosto do mesmo ano, Simonton desembarcou no Rio de
Janeiro. Seu cunhado Alexander L.Blackford chegou quase um ano depois e Francis
J. C. Schneider no final de 1861.[15]
E o trabalho desenvolveu e cresceu
para a Glória de Deus. A igreja presbiteriana do Brasil é uma das grandes
igrejas que tem sua Confissão de Fé e Catecismos de Westminster respaldada
pelas Escrituras e tida como uma igreja do ramo das famílias reformadas.
[1]
MATOS, Alderi de Souza; NASCIMENTO, Adão Carlos. O que Todo Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p.9.
[2]
Antes de qualquer coisa devemos esclarecer: A Igreja Presbiteriana confessa a fé
unicamente em Cristo Jesus como Senhor e Salvador do seu povo, logo não
acreditamos em nenhum outro mediador para salvar os homens, exceto
Cristo Jesus, confessamos a Santíssima Triande e cremos na autoridade suprema e
absoluta das Escrituras. Observamos os sacramentos (ordenanças)
que Cristo legou-nos: Batismo e Santa Ceia. Isso tudo ficará mais claro na
medida em que o nosso curso avança.
[3]
MATOS, Alderi de Souza; NASCIMENTO, Adão Carlos. O que Todo Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p.9.
[4]
LEITH, John. H. A Tradição Reformada –
Uma Maneira de ser a Comunidade Cristã. Tradução: Eduardo Galasso Faria e
Gerson Correia de Lacerda. São Paulo: Pendão Real, 1996, p253.
[5]
Idem.
[6]
GOZÁLEZ, Justus L. História Ilustrada do
Cristianismo – A Era dos Reformadores até a Era Inconclusa. Volume 2, Tradução:
Itamir Neves de Souza. São Paulo: Edições Vida Nova, 2011, p.68.
[7]
BOND, Douglas. A Poderosa Fraqueza de
John Knox.Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Editora Fiel, 2011, p.33
[8]
LUCAS, Sean Michael. O Cristão
Presbiteriano – Convicções, práticas e Histórias. Tradução: Elizabeth
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.159.
[9]
LLOYD-JONES, David Martyn. Os Puritanos
e Seus Sucerros. Tradutor: Odayr
Olivetti, São Paulo: PES, p.282.
[10]GOZÁLEZ,
Justus L. História Ilustrada do
Cristianismo – A Era dos Reformadores até a Era Inconclusa. Volume 2,
Tradução: Itamir Neves de Souza. São Paulo: Edições Vida Nova, 2011, p.82-83.
[11]
Líder dos reformados no Brasil neste período, que logo após veio a trair os
pastores calvinistas por fim matá-los.
[12] ROCHA
POMBO, José Francisco. História do
Brasil. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1963, p.514
[13]
MACEDO, Dr. Joaquim Manoel de. Lições de
História do Brazil - Para uso de escolas
de Instrução primária, Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922, p.92.
[14]
MATOS, Alderi de Souza. Os Pioneiros –
Presbiterianos do Brasil (1859-1900). São Paulo: Cultura Cristã, 2004,
p.13.
[15]
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através
dos Séculos – Uma História da Igreja Cristã. Tradução: Israel Belo de
Azevedo; Valdemar Kroker. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008, p.415.
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