quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

LIVRE-ARBÍTRIO, A CERTEZA CEGA


LIVRE-ARBÍTRIO, A CERTEZA É CEGA
Adilson Gomes*

Há, de fato, exercício de algum tipo de livre arbítrio por um homem ao fazer suas escolhas? Saberão plenamente as consequências delas? A ideia de livre arbítrio humano, ainda que se apontem versos em defesa, não tem calço nas Escrituras Sagradas como doutrina. A queda do homem pelo primeiro pecado retirou a comunhão com o Altíssimo.
- “E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro.” (Colossenses cap 1)
            Onde estaria a graça de Deus se os homens e mulheres se voltassem a Deus por caminho estranho a Cristo? Os cristãos teriam ido ao Salvador por um entendimento intelectual apenas? Por algum tipo de boa obra que houvessem praticado? Há uma graça preveniente que liberte o homem da prisão do pecado antes da conversão? A Escritura trata de graça prévia? Se estávamos mortos... “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, – pela graça sois salvos” (Efésios cap 2). Graça preveniente não passa de ensino religioso, carente de fundamento na Escritura.
            Como um miserável pecador, em absoluta carência da graça, pode ir à Verdade sem ser antes vivificado por Deus? Pode um pecador voltar-se ao Senhor da Salvação sem que antes tenha sido convencido pelo Santo Espírito? Pode um morto abrir a porta de casa ou do coração para receber algo de bom, para receber Aquele que nos convidou para cearmos com Ele (Ap 3:20)? O texto de Efésios não fala de morte figurada “mortos em nossos delitos”, mas literal. Quando olhamos para um padre ou pastor que cultue bonecos de pedra ou de madeira, arcas, mantos sagrados, fogueiras santas, templos, em magníficos santuários e as multidões que os seguem, olhamos para pessoas caída na idolatria. Há mortos andando por aí, literalmente mortos. Mortos não escolhem nem as vestes que usam. A escolha da cor de uma gravata não representa liberdade. É pura fraqueza religiosa ensinar-se isso como exemplo de livre arbítrio.
            Os cristãos somos salvos pela graça de Deus por meio da fé (Ef 2:8). Pela Palavra, reconhecemos que até a fé, meio pelo qual fomos salvos, seja dom de Deus. A fé que temos não é de nossa autoria, nem mesmo o resultado dessa fé veio de uma capacitação simplesmente intelectual, de uma liberdade de decisão, pois não enxergamos o que escolhemos – está escrito: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.” (Hebreus cap 11). Por isso, sem o socorro do Senhor, não conseguiríamos andar: “corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz” (Hebreus cap 12).
            Ele, o Senhor, é o autor e consumador da fé de todos os crentes. Por isso essa fé é perfeita (não falo de entendimento – o entendimento é diverso). A fé não é resultante de um suposto livre arbítrio humano, tão cheio de mal-entendidos. Os crentes, mesmo os remonstrantes, reconhecem-se pecadores carentes da graça, voltam-se para o Cristo crucificado e ressurreto, reconhecem que, por Ele, fomos tornados propícios ao Altíssimo, ao Soberano Deus: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. (I João 4:10)
            Devemos aqui opor ao que o mundo apresenta como fé. Vimos, no mês passado, pagãos idólatras do Rio de Janeiro cultuando um boneco padroeiro. Isso não é resultado de uma fé diferente, mas fruto da ausência de fé, é fruto da carne – “Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, [...] idolatria, feitiçarias, [...] e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.” (Gálatas cap 5).
            Pessoas que hoje estão na idolatria católica ou na idolatria dos inúmeros falsos evangelhos, ou na feitiçaria das macumbas de passes, ou nas consultas aos espíritos celestiais, dos astros, das cartas, não têm o Espírito de Verdade, mas jazem no espírito do erro. Isso é livre arbítrio? Eles conseguem enxergar aquilo que escolhem ou o resultado dessa escolha para, de fato, exercerem uma liberdade? Soberbo o que pensa ter liberdade de escolha. Ninguém que não conheça a Verdade (João 8:32) é livre. Conhecer não é apenas a posse de uma informação. Lembremos do Jesus disse a alguns judeus:
- “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (João cap 8:44 – ARA)
Primeira observação: Jesus não teve constrangimento em dizer que alguns são filhos do diabo, são assassinos e seguem a mentira – sendo seguidores da mentira, não são livres.
Segunda observação: o diabo tinha a informação de quem era a Verdade, mas rebelou-se. Tinha a informação do que poderia acontecer com quem se rebelasse contra a autoridade, mas nunca creu, nunca se firmou na Verdade.
Terceira observação: semelhantemente, homens são informados sobre essa Verdade hoje através da pregação do Evangelho, mas não creem. Seguem suas dissoluções, sendo incapazes de voltarem-se a Deus.
Quarta observação: os seguidores da mentira não têm liberdade para escolher o eterno castigo. Por que eterno castigo? O pecado, sendo eterno, sem redenção, tem como juízo justo um castigo eterno. Rejeitam o Criador, o Advogado, o Juiz por suas certezas cegas. É justo, portanto, que o castigo seja eterno.
Os crentes somente seguem a Verdade por absoluta graça de Deus, por haverem sido selados com o Espírito da verdade “que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.” (João 14:17 – ARA)
Não é evangélica a pregação que diga haver no homem algum livre arbítrio para escolher Deus ou o espírito do erro. Infelizmente, essa teologia é considerada uma heresia em grande parte do ambiente evangélico, pois a teologia caótica romana, pelo pensamento semipelagiano, contaminou há séculos grupos cristãos e é hoje predominante.
Há de fato possibilidade de o homem contribuir com a própria salvação? A fé seria um mérito humano ou dom exclusivamente de Deus (Ef 2:8)? Se há livre arbítrio, por que é necessário fé como meio para ser salvo? A fé foi concedida a toda humanidade?
Mesmo um arminiano muito hábil em manejar a Escritura com passagens tal "Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR."  (Josué 24 : 15 – ARA), não podem deixar de entender que os amorreus não eram livres, eles desconheciam a Verdade (João 8:32). Quem está nas trevas não é livre, ainda que a luz lhes seja apresentada: “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.” (João 3:19 – ARA)
Há algum crente que seja capaz de dizer que um caótico aos pés do boneco da virgem aparecida, ou outro caótico que lance flores para uma rainha do mar, ou outro caótico que adore uma falsa arca no falso templo de salomão faça uma escolha livre? Eles sabem o que fazem?
Há livre arbítrio que extermine a inclinação para o pecado que existe em todo homem, inclusive nos crentes? Livre arbítrio não representa apenas a escolha de ações, muitas até com sofrimento, o próprio pensamento é contaminado, não sendo livre. Vi um homem “liberto” do álcool, no sofrimento de uma segunda queda mesmo sendo crente, levantou-se, caminha com dificuldade sem beber. Nossas escolhas não são livres, mas respondemos por elas. Busquemos o socorro, o Advogado: Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez o céu e a terra. Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda.” (Salmos 121 – ARA).
            Não fosse o socorro recebido estaria perdido, mas graças a Deus: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Romanos cap 8 – ARC)
Graça e paz!
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O autor é Membro da Igreja Presbiteriana Piripiri - PI. ´É formado em Letras e teólogo Autodidata.


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