sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Série: Aprendendo a Ler Gênesis - Os Princípios de Interpretação ao Livro de Gênesis.


Os Princípios de Interpretação ao Livro de Gênesis.
Prof. Rev. João Ricardo Ferreira de França.*
INTRODUÇÃO:
O Livro do Gênesis é um livro muito complexo para ser lido, e por vezes, muito negligenciado pela Igreja da atualidade. Isto se deve devido há muitas dificuldades que muito tem em considerar o Antigo Testamento.
As dificuldades estão concentradas em três áreas importantes: Hermenêutica, Exegese e Teologia Bíblica. No que se refere à ciência da interpretação bíblica (Hermenêutica) enfrentamos o problema do Dispensacionalismo que traz em seu bojo interpretativo a noção de uma distinção entre Lei (Antigo Testamento ) e Graça (Novo Testamento) e isso justifica porque boa parte dos estudos bíblicos são concentrados no Novo Testamento.
Na esfera da Exegese as línguas originais são completamente negligenciadas por muitos após se formarem e passarem a pastorear as igrejas, pois, acham que conhecer o grego e o hebraico não são importantes para a tarefa pastoral, e assim, abandonam o uso do hebraico, por exemplo, e assim, muito da pregação e ensino no Antigo Testamento é puramente superficial.
E o campo da Teologia Bíblica as coisas não são diferentes, pelo contrário, são gritantes e terríveis; pois, muitos desconhecem a mensagem unificadora dos dois testamentos e ficam flutuando em ideias sem fundamentação bíblia a respeitos dos temas que são discorridos nas páginas das Escrituras. .[1]
O nosso curso procurará mostrar a importância do livro do Gênesis seguindo estas três importantes áreas para a Teologia Cristã. E assim apresentando a relevância de Gênesis pra os nossos dias, sua atualidade e mensagem redentiva.

I – CONSIDERANDO O NOME DO LIVRO A SER ESTUDADO.
O que significa o nome “Gênesis”? Ora, o ser humano vive a procura de significado para a sua vida, essa busca é uma procura por sua identidade essência, existencial e espiritual – tudo se resume em uma única ideia: a busca pelas origens!
“A tradição Antiga reconheceu isso quando deu o nome a Gênesis”.[2] A palavra hebraica usada é “בְּרֵאשִׁ֖ית ”(Bereshit) que significa “No princípio” na versão grega do Antigo Testamento, conhecida como Septuaginta, a palavra foi vertida para “Genesij,”(Genesis).
Esse título dado já configura a primeira intenção autoral que é a de narrar a origem de todas as coisas conforme foram trazidas a existência. O livro do Gênesis constitui “a primeira seção da Torá ou livro da lei”[3]
II – PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS PARA O LIVRO DO GÊNESIS.
Para entrarmos no mundo de Gênesis são necessários termos princípios interpretativos para chegarmos à intenção autoral. Paulo Anglada nos oferece uma definição interessante desta disciplina:
 O termo hermenêutica deriva-se do verbo grego e`rmhneu,w (hermeneuo), ‘eu traduzo’, ‘interpreto’, ‘significo’ Ermhneu,w (hermeneuo), e os termos correlatos e`rmhnei,a (hermeneía) , ‘interpretação’; diermhneu,w(diermeneuo), ‘interpreto’, ‘significo’; meqaermhneu,w / omai (methaermeneuo ou methaermeneuomai), ‘interpreto’, ‘significo’; e`rmhneuth,j (hermeneutes), ‘intérprete’; e dusermh,neutoj (dysermeneutos), ‘de difícil interpretação’[..][4]
Outro escritor sumariza para nós uma definição básica de hermenêutica:
em seu significado técnico, muitas vezes se define a hermenêutica  como a ciência e arte de interpretação bíblica. Considera-se a hermenêutica como ciência porque ela tem normas, ou regras, e essas podem ser classificadas num sistema ordenado. É considerada como arte porque a comunicação é flexível, e, portanto uma aplicação mecânica e rígida das regras às vezes distorcerá o verdadeiro sentido de uma comunicação[5]
A “definição tradicional da palavra é ‘ciência que define os princípios ou métodos para a interpretação do significado dado por um autor especifico’”.[6]
            Estamos aqui para reconhecermos estes princípios na interpretação de um livro bíblico como Gênesis.
2.1 – O primeiro Princípio é reconhecer a natureza literária deste livro.
            Este é o passo mais importante no processo de interpretação de um livro sagrado, pois, é deste princípio que nasce as perguntas chaves para a penetração no sentido da intenção do autor do texto. Que perguntas são essas?
2.1.1  -  Que tipo de Literatura é o livro do Gênesis?
            A bíblia é marcada pela existência de variação literária. Alguém já disse que “ler é mais importante que estudar”, esta é de fato uma observação passível de avaliação.
Uma leitura correta de qualquer texto bíblico levará, antes de mais nada, a fazer algumas distinções, por vezes, espontâneas: Estamos diante de um texto em prosa ou em poesia? Trata-se de um relato ou de um discurso? Com isso, estamos praticando um princípio de distinção entre Gêneros Literários. As respostas a tais perguntas nos oferecem a orientação elementar para classificarmos o texto.[7]
            Reconhecendo o gênero literário de uma passagem isso pode nos levar uma forma de como ler o livro do Gênesis. O que é Gênero Literário? O Gênero é “um tipo de composição literária que pode ser distinguido por aspectos como o conteúdo de uma forma específica”[8]  Longman nos mostra que faz muita diferença se encararmos Gênesis como “mito, parábola, história, lenda ou mesmo uma combinação desses outros gêneros”[9]
            Os eruditos classificam Gênesis como sendo um texto pertencente a uma narrativa histórica. Consideraremos a questão do gênero de Gênesis mais adiante em um estudo específico.
2.1.2 – Como os Antigos hebreus contavam a história?
            Quando nos aproximamos do texto de Gênesis sabemos que estamos lendo um texto excepcional, pois, o narrador conhece as intenções de Deus, a intenção do coração dos homens;  e, isso é fascinante, pois, pode nos ajudar a entender a mensagem do livro de Gênesis. Culturas e povos diferentes contam suas histórias de modo distinto, é desta forma que devemos nos aproximar deste texto.
2.1.3 – Este Livro foi escrito em que época e tem apenas um autor?
Muitas pessoas leem este livro como sendo a obra de um único autor, mas será mesmo? Há fatos registrados neste livro que nos deixam perplexos, por exemplo, existem dois realtos da criação (Gênesis 1.1-2.4ª; 2.4b-25); há relatos em que um patriarca mente sobre o seu estado civil (Gênesis 21.10-20; 20.1-18; 26.1-11). Muitas pessoas tem sugerido que este seja variações de um mesmo relato. E alguns eruditos têm assegurado que Gênesis não é obra de um único autor; e assim, é fragmentação de documentos copilados.
2.1.4 – O que aprender com a comparação de Gênesis com outros relatos de outras culturas?
            O que Gênesis narra tem paralelos nas culturas do Oriente Próximo. Há muita similaridade e no passado muitos eruditos enfatizaram essa similaridade a ponto de propor que o livro de Gênesis é essencialmente mitológico no se refere aos seus onze primeiros capítulos; todavia, a verdadeira análise por comparação deve enfatizar as diferenças, pois, assim estaremos prontos para entender a natureza literária de Gênesis.
2.2 – O Segundo princípio devemos estudar o livro no seu contexto histórico.
            Agora precisamos olhar para o mundo em volta do qual Gênesis foi escrito. Pois, o contexto histórico provocou a existência do livro. Neste princípio temos as seguintes perguntas:

2.2.1 – Quando o livro foi escrito?
            A questão é precisar a data em que este documento bíblico foi escrito. Esta pergunta depende da identificação autoral do livro do Gênesis. Se acharmos o autor do livro poderemos com alguma segurança determinar o período em que o livro foi escrito.
2.2.2 – Que informações Gênesis apresentam-nos sobre o passado?
            Algumas pessoas leem gênesis supondo que ele é uma narrativa de todos os acontecimentos do passado. Outros pensam que Gênesis narra em detalhe todo o passado. Ao ler o livro parece que estamos lendo uma sequência de eventos, mas que devem ter demorado séculos para ocorrer; e há fatos que não são narrados com detalhes, por exemplo, quem era a mulher de Caim? Quanto tempo Adão e Eva eles viveram no Paraíso  o livro não narra; mas Gênesis é um livro histórico com sua forma peculiar de contar a história.
2.2.3 – Nosso conhecimento do mundo antigo em que o livro foi escrito nos ajudar a compreendê-lo?
            Os estudos arqueológico, culturais e sociológicos do mundo antigo podem nos ajudar a compreender adequadamente a mensagem do Antigo Testamento, e de modo particular, do livro de Gênesis.
2.3 – O Terceiro princípio hermenêutico: Precisamos refletir sobre o ensino a respeito de Deus que livro apresenta.
            Toda a narrativa de Gênesis é carregada de teologia. E teologia é o estudo sobre Deus e os seus atributos.
2.3.1 – Como o livro descreve o ser de Deus?
            Na análise que fazemos de Gênesis Deus é descrito como sendo um Deus imanente que se envolve no processo da criação. Deus é visto como uma pessoa e não uma força impessoal; como criador ele fez o homem conforme a sua imagem (Gênesis 1.26-27); o primeiro livro da Bíblia descreve Deus tendo um relacionamento profundo com o homem (Gênesis 3); este relacionamento é estreitado por meio das alianças conforme vemos estabelecido em textos como Gênesis 15 e 17 estas e outras realidades teológicas são apresentadas sobre Deus.
2.3.2 – Como Gênesis se harmoniza com o restante das Escrituras Sagradas?








            Gênesis foi recebido pela Igreja Cristã como sendo o fundamento e o alicerce de tudo o que é construído posteriormente. Vejamos o quadro abaixo:




Longman lembra-nos  que o “nosso ponto de partida é o reconhecimento de que Gênesis nos fornece o alicerce”. [10] Ou seja, o fundamento de toda a teologia da Igreja está em Gênesis.
2.4 – Devemos Refletir sobre o ensino de Gênesis para os nossos dias atuais.
            O que Gênesis significa para cada um de nós em nosso tempo atual? Algumas perguntas podem nos ajudar a entender essa relação.
2.4.1 – Como o ensino de Gênesis se relaciona com a nossa vida particular de modo redentivo?
            Como cristãos vivemos as realidades que Gênesis prometera cumprida no relacionamento com a Igreja de Cristo Jesus. Qual é a relação da igreja com as alianças do Antigo Testamento? O rito da circuncisão? E outros emblemas do livro de Gênesis.
2.4.2 – Como não impor nossos pensamentos na leitura do Gênesis?
            Primeiro passo é a humildade – muitas de nossas leituras deste livro podem estar erradas e devemos estar abertos a interpretações mais sólidas.
            Devemos avaliar a nossa interpretação com a catolicidade da Igreja de Cristo, ou seja, aprender a Ler Gênesis com os pais da igreja, com outros cristãos pode ser proveitoso para não cairmos na armadilha de impor as nossas ideias sobre o texto sagrado.
Conclusão:
            Estes princípios são norteadores que deverão nos ajudar a estudar o Livro de Gênesis durante este curso. Esperamos que cada um dos escritos nesta disciplina possam crescer na graça e no conhecimento das verdades de Deus revelada em Gênesis.



* O Autor é Ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Atualmente é pastor  efetivo na Primeira Igreja Presbiteriana de Piripiri – PI. Formou-se em Teologia Reformada pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) em Recife – PE. Foi professor de Grego e Hebraico no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil.  É casado com Géssica Araújo Soares Nascimento de França e pai do pequeno  Lucas Luis Nascimento de França.
[1] Boa parte desta discussão eu  apresentei em minha monografia  A Relevância do Antigo Testamento Para a Pregação Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2009, PP.86 (Obra não Publicada)
[2] LOGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.11.
[3] CHAMPLIN, Russell Noramn. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia,  Volume 2. Tradução: João Marques Bentes. São Paulo: Hagnos, 2011, p.881.
[4] ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Hermenêutica Reformada – Correntes Históricas, pressuposições, Princípios e Métodos Lingüísticos, Ananindeua: Knox Publicações, 2006, p.21.
[5] VIRKLER, Hermenêutica – Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. [ hoje com o título  de Hermenêutica Avançada]  Tradutor: Luiz Aparecido Caruso, São Paulo: Vida, 1987, p.9.
[6] OSBORNE, Grent R. A Espiral Hermenêutica – uma nova abordagem à interpretação bíblica. Tradução: Daniel Oliveira, Robinson N. Malkomes, Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.25.
[7]SILVA. Cássio Murilo Dias. Metodologia de Exegese Bíblica. São Paulo: Editora  Paulinas, 2000, p.187-188.
[8] KAISER JR., Walter & SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2002, p. 276
[9] LOGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.11.
[10] LOGMAN III, Tremper. Como Ler Gênesis. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.33

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

TEOLOGIA DA REVELAÇÃO

novo emblema do cep
TEOLOGIA DA REVELAÇÃO

Rev. João Ricardo Ferreira de França.
SEÇÃO I
I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.
Ref. - Sal. 19: 1-4; Rom. 1: 32, e 2: 1, e 1: 19-20, e 2: 14-15; I Cor. 1:21, e 2:13-14; Heb. 1:1-2; Luc. 1:3-4; Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20; I Tim. 3: I5; II Pedro 1: 19.
            Estamos diante de uma grande declaração de fé. Chama-nos a atenção o fato de que a Confissão de Fé de Westminster não comece sua declaração doutrina com o estudo do ser de Deus. Por quê? Qual a razão dos teólogos puritanos não iniciarem sua confessionalidade com o ser de Deus? As teologias sistemáticas de nossos dias começam com esta noção em primeiro plano, mas a nossa Confissão de Fé não segue este caminho.
            A resposta para esta posição está no fato de que nós não podemos conhecer a Deus sem que primeiro ele se revele a nós. É de fundamental importância reconhecermos que o estudo da Teologia não é em primeiro plano o estudo do ser de Deus, mas o estudo de sua revelação, ou como coloca-nos Gordon Clarck: “A Escritura fala-nos de Deus; por isso, deveríamos estudá-la[1] Esta é a razão principal pela qual devemos sempre estudar a Bíblia.
            A Bíblia em sua totalidade fala-nos de um ser Soberano governador de todas as coisas isso é pressuposto por todos aqueles que acreditam ser a Bíblia uma fonte confiável da verdade.  O que podemos aprender desta primeira seção da Confissão de Fé de Westminster?

1 – A REVELAÇÃO GERAL.

            A primeira questão a ser entendida deve ser o conceito fundamental do que venha a ser revelação. O que é revelação? James I. Packer nos apresenta o seguinte conceito mostrando que “o termo procede do latim “revelare” e significa “tirar o véu” ou “descobrir[2] Este é o conceito mais básico que podemos ter a respeito deste vocábulo.

           1.1– O Que é  a  Revelação Geral?

            Podemos apresentar a questão da revelação sob a seguinte definição como aquela forma de Deus se revelar por meio das coisas que foram criadas” a revelação geral tem dois aspectos: (1) Revelação Geral Imediata (2) Revelação Geral Mediada.

1.1.1 – Revelação Geral Imediata.

            A Confissão de Fé de Westminster começa a sua declara em termos interessantes e importantes para a vida da Igreja: “Ainda que a luz da natureza [ no homem]”[3] Este aspecto da revelação de Deus diz respeito aquela revelação que Deus faz de si mesmo ao homem sem precisar de meios para fazê-lo, por exemplo, quando a Lei de Deus foi implantada no coração de todos os homens, conforme aprendemos na Escritura conforme vemos em Romanos 2.14-16:
Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho.
            Observe a expressão "norma da lei gravada no coração”; [4] a palavra norma no grego = ergon no grego que significa trabalho de onde vem a nossa palavra energia o trabalho da lei. A segunda palavra que aparece no texto de romanos é "gravada" a palavra grega aqui é grapton = esculpir, registrar, entalhar a obra da lei foi esculpida ou trabalhada em nossos corações; a isto nós chamamos de Revelação Geral Imediata. O quadro abaixo nos ajuda a visualizar este ensino[5]:




Calvino chama isso de semente da religião ou senso da divindade:
Nós, inquestionavelmente, afirmamos que os homens têm em si mesmos certo senso da divindade; e isto, por um instinto natural. ...Deus mesmo dotou todos os homens com certo conhecimento de sua divindade, cuja memória ele constantemente renova e ocasionalmente amplia.[6]
             É uma revelação direta de Deus sem meios ao homem, por isso, se chama de revelação geral imediata. Isso implica no fato de que ninguém nasce ateu neste mundo criado, pois, todos os homens nascem com o senso de Deus implantado dentro deles; e mais, que isso o homem é um ser moral porque a lei foi colocada em seu coração.

1.1.2 – Revelação Geral Mediata:

            Ainda lemos na Confissão de Fé de Westminster o seguinte: “[...]e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus[...]”. Podemos definir este aspecto da revelação geral  consiste no fato de Deus dá-se a conhecer por meio das coisas que foram criadas. Paulo Anglada nos lembra que o “universo físico é uma pregação” [7] ao declarar isso tem em mente textos das Escrituras como Salmo 19.1-4:
Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol.
         Aqui vislumbramos a noção de que a revelação de Deus para ser comunicada necessita de meios. O texto que temos diante de nós nos apresenta essa verdade.
         O que faz os céus? “proclamam a glória de Deus”, o verbo proclamar no hebraico é mesaperim ~yriPe.s;)me. este verbo tem o sentido de “narrar”, “contar com exatidão”, “revelar”, “pregar”, “ser selecionado e destinado para contar algo”. A criação é o canal no qual Deus se apresenta diante dos homens como sendo o criador de tudo o que existe. Neste sentido podemos dizer, sem sombra de dúvida, que a criação é puramente revelacional. Ela não está vinculada a uma crença peculiar do judaísmo sobre a origem de todas as coisas. Antes de tudo é a própria revelação de Deus.
         Paulo vai ecoar esta mesma tônica sobre a Revelação geral de Deus na criação conforme vemos em Romanos 1.18-20:
A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;
            Tudo o que homem pode conhecer sobre Deus como criador de tudo o que existe está ligado à criação. Isso é bem ilustrado no texto que acabamos de citar. Paulo reconhece que a criação é revelacional, ela nos apresenta Deus.
            Os atributos de Deus são manifestados neste aspecto da Revelação Geral. A bondade de Deus; a sabedoria e o poder. Isto implica que toda a criação que vemos mostra-nos Deus nestas três facetas: ele é bom poque decidiu criar-nos, ele é sábio poque sabe porque nos trouxe à existência e é poderoso porque do nada criou todo o universo que conhecemos.

           1.2 –  A Revelação Geral E O Conhecimento Redentivo.

            Na revelação geral  o homem não tem um conhecimento redentivo. Ou seja, ele não é salvo porque contempla o vê as obras da criação e da providência; a Confissão de Fé é enfática neste aspecto, ao declarar “que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação;”.
            A revelação geral torna o homem mais cupável diante de Deus; eles ficam indesculpáveis diante de Yahweh conforme lemos em Romanos 1.20: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;”. Ainda que o homem tenha esse conhecimento de Deus que fica indesculpável, pois, este conhecimento não pode promover o conhecimento de Deus como redentor, apenas mostra-nos Yahweh como o Criador de tudo o que há.

2 – REVELAÇÃO ESPECIAL.

          Isto posto somos agora introduzidos ao segundo aspecto da revelação de Deus. Deus ele se revela redentoramente ao homem de uma forma especial; esta forma é chamada pela teologia de Revelação Especial. Poderíamos dizer que a Revelação Especial de Deus é uma forma de revelação mediada, pois, ela significa que Deus revelou-se nas páginas das Escrituras. Ou seja, toda a Bíblia é a revelação de Deus. Na Bíblia Deus se revela como criador e redentor do homem.
      A Confissão de Fé nos apresenta uma definição ímpar deste aspecto da Revelação de Deus:
[...]por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. [...]
            Aqui são importantes aspectos que precisam ser estudados com mais parcimônia. Esta declaração dos teólogos de Westminster. Pois, nesta declaração temos conceitos importantes para compreendermos a Revelação de Deus nas Escrituras.

           2.1 – A Natureza  desta Revelação:

            Aqui temos a caracterização desta revelação de Deus dada ao homem, isto pode nos ajudar a entender a supremacia da Palavra de Deus para o homem.

           2.1.1 – Ela era  Progressiva

            A Confissão reconhece o conceito de progressividade da revelação ao dizer: “por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se” aqui nós temos o conceito de progressividade “diversos tempos e diferentes modos, revelar-se”, ou seja, Deus revelou sua palavra em diferentes locais. O autor da carta aos hebreus nos lembra esta grande verdade: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.”(Hebreus 1.1-2)

2.1.2 – Ela era Orgânica:

            A revelação especial é orgânica – ela é a mesma mensagem tem o mesmo conteúdo desde o seu inicio; o conceito de orgânica pode ser exemplificado do seguinte modo imaginemos que temos um caroço de manga que plantamos naquela semente temos a mangueira de forma potencial, quando ele germina e cresce, assim, temos a mangueira que é o caroço de manga plantado.

           2.2 – A Finalidade da Revelação Especial:

            Aprendemos pela Confissão de Fé de Westminster que a Revelação Especial tem objetivos específicos na vida do povo de Deus, eis o que diz a nossa declaração de fé:
“[...] e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, [...]”

2.2.1 – Preservação da Verdade:

            Deus em sua santa e sábia sabedoria decidiu que a sua revelação tinha que ser preservada; a verdade é preservada por Deus, por meio da revelação especial – a doutrina da preservação traz paz ao coração da Igreja em saber que a mensagem redentora de Deus não se perdeu no tempo. A Escritura nos mostra isso de forma bem clara: “Para que a tua confiança esteja no SENHOR, quero dar-te hoje a instrução, a ti mesmo.  Porventura, não te escrevi excelentes coisas acerca de conselhos e conhecimentos,  para mostrar-te a certeza das palavras da verdade, a fim de que possas responder claramente aos que te enviarem?”(Provérbios 22.19-21)
            Nós temos a certeza de que as palavras que lemos na Bíblia é verdade de Deus porque ele assim o quis.

2.2.2 – Propagação da Verdade:

            A verdade não deveria apenas ser preservada, mas também ser propagada, anunciada, dita e proclamada. Deus preservou as suas palavras para que a partilhemos com os outros, uma vez que nós precisamos da verdade para nos orientar, nos guiar na tomada de decisões de igual modo ela deve ser propagada aos homens. Foi o que Lucas fez: “igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído”. (Lucas 1.3-4)
            A Escritura como revelação de Deus é dada “para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo
            Ou seja, a igreja não é enganada quando tem a Escritura como centro de sua vida, e se há hoje enganos na Igreja é porque se está negligenciado a Escritura. Isto porque a Igreja tem três grandes inimigos: a corrupção da carne, a malícia do acusador e acusação do mundo. Por isso, com a Escritura a Igreja é santificada. Sem ela os homens não podem ser consolados e santificados: Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20.

3 – CARACTERÍSTICAS DA REVELAÇÃO.

            A nossa Confissão de Fé, com base na Palavra de Deus, apresenta-nos duas características importantes a respeito da revelação especial, quando afirma: “[Deus] foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.

           3.1 - É Uma Revelação Completa: “Foi Servido Escrever Toda”

            Aqui nós aprendemos que à Escritura nada a falta está completa para aquilo que ela se destina revelar ao homem. O apóstolo Paulo já dá mostra desta verdade em Romanos 15.4: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.”

3.2 -  É uma Revelação Suficiente: “Isto Torna A Escritura Indispensável, Tendo Cessado As Antigas Formas De Deus Se Comunicar”.

            O registro da verdade gera a infalibilidade e a suficiência da Palavra de Deus. Os teólogos  chamam esta verdade de Sola Scriptura – Somente as Escrituras, indicando assim, que aquelas antigas formas de Deus se comunicar, como sonhos, profecias, visões e línguas já cessaram a muito tempo [discutiremos isso com mais propriedade em outro estudo]. A palavra de Deus  nos é suficiente conforme lemos na Bíblia Sagrada em 2 Timóteo  3.15-17: 
e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.  Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,  a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.

Conclusão:

Temos visto que o estudo da Revelação de Deus nos ajuda a compreender mais sobre ele e a sua palavra que nós foi manifestada; as implicações disso são importantes e severas para nós. Precisamos estudar a Palavra de Deus para que assim possamos saber como adorá-lo como convém e amá-lo com todo o nosso entendimento.




[1] CLARCK, Gordon. H. Em Defesa da Teologia. Tradutor: Marcos José Soares de Vasconcelos. Brasília: Editora Monergismo, 2010, p.21.
[2] PACKER, James I. Vocábulos de Deus. São Paulo: FIEL, 2002, p.15
[3] Devemos entender que a CFW [Confissão de Fé de Westminster] tem o entendimento que a frase “luz da natureza diz respeito a semente da religião implantada no ser humano”
[4] to. e;rgon tou/ no,mou grapto.n evn tai/j kardi,aij auvtw/n – to ergon tou nomou grapton en tais kardiais autôn – Literalmente: a obra da lei esculpida nos corações deles.
[5] SPROUL, R.C. Verdades Essenciais da Fé Cristã – Caderno 1. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p.10
[6] CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2009 – Livro II, I,43
[7] ANGLADA, Paulo R. B. Sola Scriptura – A doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p.26

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A ORIGEM DO PRESBITERIANISMO

A ORIGEM DO PRESBITERIANISMO – UMA BREVE AVALIAÇÃO HISTÓRICA.
Professor: Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Introdução:
            Ainda dentro da temática da Identidade Confessional e denominacional o presbiterianismo tem uma rica história ainda a ser explorada.  Precisamos levar em consideração a nossa história e identidade para podermos caminhar testemunhando de Cristo Jesus neste mundo.
            As origens históricas, teológicas e denominacionais oferecem o real contorno de nossa identidade. Muitos presbiterianos não oferecem uma resposta clara porque desconhecem sua própria origem confessional. “Muitas vezes quando questionados por outras pessoas quanto as suas convicções e práticas, sentem-se frustrados com a sua incapacidade de expor de modo coerente e convincente as suas posições”.[1]
            Este estudo procura minimizar esta carência de compreensão histórica do que seja o presbiterianismo, pois, para muitos evangélicos a Igreja Presbiteriana é tida como uma seita e por terem tal compreensão evitam-se aproximar-se dos presbiterianos[2].
I – PRESBITERIANOS QUEM SOMOS?
            De acordo com o nosso Manual Presbiteriano (Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil): A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) é uma federação de Igrejas Locais que “tem em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária”.[3]
II – DE ONDE VIEMOS?
            Os presbiterianos tem uma origem bem antiga. A Igreja Presbiteriana pertence à tradição reformada. Ou seja, sua origem está vinculada a chamada Reforma Protestante.
1.2 – O Presbiterianismo Internacional.
            Vamos começar estudando a ideia do Presbiterianismo no mundo afora. Claro que devemos considerar primeiramente nas páginas das Escrituras; pois, aprendemos na Palavra de Deus que o sistema de governo por meio de presbíteros começa desde os tempos do Antigo Testamento.
            Quando Moisés é chamado para libertar ao povo, então, ele já encontra na comunidade de Israel os presbíteros como dirigentes do povo: Êxodo 3.16: “Vai, ajunta os anciãos [PRESBÍTEROS] de Israel e dize-lhes: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que vos tem sido feito no Egito”.
            No Novo Testamento Cristo também ao aparecer no cenário se depara também com a realidade dos presbíteros. Notemos em textos como: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos [πρεσβυτέρων - presbytérôn]? Pois não lavam as mãos, quando comem”. (Mateus 15.2 ARA) outro texto que lemos no evangelho é o seguinte: “pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos [πρεσβυτέρων - presbytérôn], não comem sem lavar cuidadosamente as mãos;” (Mar 7:3 ARA)
            O relato de Atos dos Apóstolos apresenta-nos a existência de igrejas governadas por presbíteros (Atos 14.23; 20.17); e Paulo escreve mostrando que governo da Igreja é marcado pela regência dos presbíteros (1 Timóteo 3.1-11; 5.17; Tito 1.1-5).
a) João Calvino e os primórdios reformados do presbiterianismo:
            Na chamada Reforma Protestante o sistema presbiteriano começa a ser desenvolvido, primeiramente, pelo maior mentor da Reforma João Calvino como algum já disse: “João Calvino foi o reformador que deu atenção à questão da forma de governo mais do que qualquer outro”.[4]
Calvino desenvolveu as Ordenanças Eclesiásticas. Nelas ele sumariza os quatros ofícios – Pastores para serem pregadores da Palavra e a administração dos sacramentos; os Doutores que eram responsáveis pelo ensino de teologia na igreja e nos seminários; os presbíteros que, juntamente com os pastores, exerciam a supervisão ao rebanho na exortação, admoestação, aconselhamento e disciplina, e por fim, os Diáconos que cuidavam dos deveres de misericórdia da igreja.[5]
Notemos que o governo “ficava principalmente nas mãos do Consistório [ uma espécie de conselho], que era formado por cinco pastores e doze leigos que recebiam o nome de ‘anciãos’ [Presbíteros]”[6] em outras palavras Calvino restaurara o governo presbiteriano para a igreja local.
b) John Knox – Pai do Presbiterianismo.
            O segundo personagem que merece destaque entre os presbiterianos é o escocês John Knox. Knox foi discípulo de Calvino quando durante o seu exílio em Genebra. Ele refurgiou-se naquela cidade e motivado por  Calvino assumiu o pastorado de uma igreja de refugiados ingleses.[7] “A Genebra de Calvino foi uma revelação para Knox: ali ele encontrou o governo e a disciplina presbiteriana das igrejas, códigos morais aplicados pela igreja, ordem e paz na sua direção.”[8] Na Igreja de Genebra Knox “introduziu a Ordem de Culto [...] e introduziu subsequentemente, quando voltou para a Escócia, a qual tem sido usado, desde aquele tempo, na Igreja da Escócia como o seu Livro de Ordem oficial”[9]
            No desenvolvimento da eclesiologia de John Knox definiu-se que
em cada igreja, elegiam-se presbíteros, e também o ministro, mesmo que este não pudesse ser empossado antes de ser examinado pelos demais ministros. O livro de disciplina da igreja, o Livro de Ordem comum e a Confissão Escocesa foram os pilares pelos quais Knox construiu sua nova igreja.[10]
            Assim temos uma visão geral do presbiterianismo internacional conforme é conhecido na história estes dois fundamentais representantes e articuladores do sistema presbiteriano devem receber pelo laborioso trabalho que realizaram para desenvolver um sistema eclesiástico tão unificado e bíblico como é o Presbiterianismo.
1.2 – O Presbiterianismo Nacional – Um Esboço Histórico.
A) A França Antártica – um sonho frustrado. [1555-1558]
            Os reformados franceses desejosos por liberdade religiosa procuravam terras onde pudesse ter liberdade de cultuar a Deus a verdadeira fé evangélica, então, a Baía de Guanabara foi um alvo escolhido para a implantação deste sonho; o próprio Calvino enviou ao Brasil cinco pastores calvinistas para o sucesso desta empreitada. A correspondência mantida entre Calvino e os franceses, inclusive com Villegaignon[11] nos mostra o interesse de Calvino pela França reformada que aqui se estabelecera.
            No ano de 1555 os presbiterianos (reformados) haviam chegado na Baía de Guanabara  e procuram logo estabelecer uma colônia reformada; todavia, com o passar dos anos os reformados foram hostilizados, presos e torturados por professar a fé reformada, em um tempo de 12 horas eles deveriam formular o que creiam; eles o assim fizeram foi confeccionada a primeira Confissão de fé das Américas – a Confissão de Guanabara, escrita em Latim focalizando nos pontos fundamentais da fé reformada; após, a redigirem foram matirizados.
            Após dez anos João Bolés , conhecido como Jacques le Balleur. – o quinto calvinista – que havia fugido  foi encontrado pelo Padre Anchieta e executado pelo mesmo[12]. E Mem de Sá e Estácio de Sá conquistaram o forte Coligny, e assim, o calvinismo [presbiterianismo] foi sufocado no Brasil. Villegaignon ficou conhecido na Europa como o Caim das Américas, pois, havia traído os propósitos calvinistas.[13]
B) A Holanda Presbiteriana no Nordeste. [1630-1654]
            A segunda tentativa, igualmente frustrada, de se estabelecer o presbiterianismo em solo brasileiro foi em Pernambuco; a invasão holandesa trouxe o calvinismo da Holanda para o Brasil sob a liderança do Conde Mauricio de Nassau. Neste processo se instalou Igrejas Reformadas [Presbiterianas] por todo o Nordeste, deu-se liberdade de Culto aos Judeus, católicos e índios; bem como se fez a tradução do catecismo de Hidelberg para a língua Tupi, organizou-se igrejas, conselho e consistório chegando até haver um sínodo; mas, muitos não estavam desejosos de ter uma nação protestante, então surgiu revoltas tais como a Batalha dos Guararapes onde os holandeses foram expulsos, e, desta forma mais uma vez a presença calvinista foi ofuscada e apagada do solo brasileiro.
C) O Estabelecimento do Presbiterianismo Brasileiro.
            O historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil declara que a “Implantação da obra presbiteriana no Brasil resultou dos esforços de Igrejas norte-americanas, que ao longo de muitas décadas fizeram um enorme investimento de pessoal e recursos em muitos pontos do território brasileiro”[14]
            Esses esforços resultaram posteriormente no estabelecimento por definitivo da presença presbiteriana neste País. Um historiador sumariza este fato quando escreve:
A Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos, em Maio de 1859, aprovou a nomeação de Ashebel Green Simonton, de 26 anos, ‘para explorar o território verificar os meios de atingir com sucesso a mente dos naturais da terra, e testar até que ponto a legislação favorável à tolerância será mantida’. Se Simonton fizesse um relatório favorável , a missão seria ampliada pela Sociedade. Em 12 de agosto do mesmo ano, Simonton desembarcou no Rio de Janeiro. Seu cunhado Alexander L.Blackford chegou quase um ano depois e Francis J. C. Schneider no final de 1861.[15]
 E o trabalho desenvolveu e cresceu para a Glória de Deus. A igreja presbiteriana do Brasil é uma das grandes igrejas que tem sua Confissão de Fé e Catecismos de Westminster respaldada pelas Escrituras e tida como uma igreja do ramo das famílias reformadas.




[1] MATOS, Alderi de Souza; NASCIMENTO, Adão Carlos. O que Todo Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p.9.
[2] Antes de qualquer coisa devemos esclarecer: A Igreja Presbiteriana confessa a fé unicamente em Cristo Jesus como Senhor e Salvador do seu povo, logo não acreditamos em nenhum outro mediador para salvar os homens, exceto Cristo Jesus, confessamos a Santíssima Triande e cremos na autoridade suprema e absoluta das Escrituras. Observamos os sacramentos (ordenanças) que Cristo legou-nos: Batismo e Santa Ceia. Isso tudo ficará mais claro na medida em que o nosso curso avança.
[3] MATOS, Alderi de Souza; NASCIMENTO, Adão Carlos. O que Todo Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p.9.

[4] LEITH, John. H. A Tradição Reformada – Uma Maneira de ser a Comunidade Cristã. Tradução: Eduardo Galasso Faria e Gerson Correia de Lacerda. São Paulo: Pendão Real, 1996, p253.
[5] Idem.
[6] GOZÁLEZ, Justus L. História Ilustrada do Cristianismo – A Era dos Reformadores até a Era Inconclusa. Volume 2, Tradução: Itamir Neves de Souza. São Paulo: Edições Vida Nova, 2011, p.68.
[7] BOND, Douglas. A Poderosa Fraqueza de John Knox.Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Editora Fiel, 2011, p.33
[8] LUCAS, Sean Michael. O Cristão Presbiteriano – Convicções, práticas e Histórias. Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.159.
[9] LLOYD-JONES, David Martyn. Os Puritanos e Seus Sucerros. Tradutor: Odayr Olivetti, São Paulo: PES,  p.282.
[10]GOZÁLEZ, Justus L. História Ilustrada do Cristianismo – A Era dos Reformadores até a Era Inconclusa. Volume 2, Tradução: Itamir Neves de Souza. São Paulo: Edições Vida Nova, 2011, p.82-83.
[11] Líder dos reformados no Brasil neste período, que logo após veio a trair os pastores calvinistas por fim matá-los.
[12] ROCHA POMBO, José Francisco. História do Brasil. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1963, p.514
[13] MACEDO, Dr. Joaquim Manoel de. Lições de História do Brazil  - Para uso de escolas de Instrução primária, Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922, p.92.
[14] MATOS, Alderi de Souza. Os Pioneiros – Presbiterianos do Brasil (1859-1900). São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.13.
[15] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos – Uma História da Igreja Cristã. Tradução: Israel Belo de Azevedo; Valdemar Kroker. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008, p.415.